O GUIA FORA DE PORTAS

DA REGIÃO DE SETÚBAL


Música de Câmara

13 Mar 2022
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TEMPORADA DE MÚSICA DA CASA DE ÓPERA DO CABO ESPICHEL
INTÉRPRETES:

Edgar Gomes, violino I
Ricardo Vieira, violino II
José Miguel Freitas, viola
Maria Nabeiro, violoncelo

 

O Quarteto Quíron é um ensemble formado por quatro músicos portugueses com extensos currículos, que contam com experiências individuais nas escolas mais prestigiadas do mundo, com passagens por países como Suíça, Bélgica, Países Baixos e Reino Unido.
Laureados nas competições internacionais Danubia Talents Wiener Klassiker 2021 com o primeiro prémio, e King’s Peak International Music Competition com o segundo prémio, na Áustria e nos Estados Unidos, respetivamente.
O nome Quíron, da mitologia grega, inspira o quarteto a cultivar os seus conhecimentos e a paixão do grupo pela música, incentivando a participar em vários projectos e concursos. Destacam-se nomeadamente o NSKA (Academia de Quartetos de Cordas dos Países Baixos), onde são atualmente mentorados pelo Quarteto Danel, e uma Pós-Graduação em Música de Câmara - Quarteto de Cordas pelo Conservatório Real de Bruxelas.

 

Programa de Sala 

 

J. Haydn: Quarteto op.20 “Sol” n.º 5 em Fá menor
► Allegro moderato.
► Menuetto.
► Adagio.
► Finale. Fuga a 2 Soggetti


L. V. Beethoven: Quarteto op.18 n.º 1 em Fá Maior
► Allegro con brio
► Adagio affettuoso ed appassionato
► Scherzo. Trio
► Allegro

 

F. Mendelssohn: Capriccio op.81 em Mi menor
► Andante con moto. Allegro fugato, assai vivace.

 

J. Haydn: Quarteto Op. 20 n.º 5 em Fá menor

Joseph Haydn, nascido em 1732 na Áustria, foi um celebrado compositor clássico da sua época que, como era comum nesse século, deixou uma enorme legado de obras, rico em estilos e inovações, assim como em número. As suas criações impulsionaram e inspiraram outros compositores como Mozart, Beethoven e Mendelssohn, levando a novas tradições e formações até então não especificadas ou flexíveis.

Apesar de ser uma parte importante da música sinfónica e de teclado, uma das inovações mais importantes e duradouras deste compositor foi a invenção do quarteto de cordas como o conhecemos hoje. Embora existisse música para 4 instrumentos de cordas, não era necessariamente escrita música para dois violinos, viola e violoncelo.

Muitas vezes um ou dois instrumentos eram substituídos por outros com um registo semelhante, tanto de cordas como de sopros, consoante a necessidade, e mesmo que não existisse nenhuma alteração, não existia nenhuma diferença de escrita entre quarteto de cordas e outros grupos de música de câmara. Hoje em dia, esta formação tem uma tradição única e destacou-se como sendo uma das formações mais equilibradas e versáteis que existem, tendo uma tradição enorme que começou com os quartetos de cordas de Joseph Haydn.

Os quartetos opus 20, também conhecidos como os “Quartetos Sol”, forma compostos entre 1769 e 1772 e são considerados um dos primeiros “verdadeiros” quartetos de Haydn, onde ele experimentou várias novas técnicas que se iriam tornar a base onde formas mais complexas se iriam basear e onde se estabeleceu o papel de cada membro do grupo de forma mais igual, onde antes estava muito mais dividido entre melodia e acompanhamento. Foi também aqui que o compositor explorou as várias formas, entre elas a forma sonata, onde a igualdade dos instrumentos criou novas texturas e possibilidades.

O Quarteto em fá menor Opus 20 n.º 5 é um dos quartetos mais intensos de Haydn devido à tonalidade menor, tom escuro e erupções retóricas, terminando com uma fuga cujo tema é inflexível e curto. O primeiro andamento, embora em forma sonata com dois temas em menor e maior, respetivamente, tem mais liberdade que o normal, usando o silêncio e abruptas mudanças tonais para criar surpresa e emoção. Já o segundo andamento é uma clássica dança que joga com a diferença entre menor no Menuetto e maior no Trio, exacerbando a diferença entre os dois mundos de luz e sombra.

Se o segundo andamento é uma dança clássica o terceiro é uma das especialidades de Haydn, a variação. Neste andamento temos uma melodia calma e bela que se repete ao longo do andamento como uma ária de ópera, com embelezamentos e jogos de cor em cada variação. Para terminar, o quarto andamento adiciona uma dimensão mais intelectual, apresentando uma fuga curta que contrasta com o carácter do segundo e terceiro andamento mas que completa bastante o primeiro, completando o quarteto como um todo e introduzindo um novo elemento.

Edgar Gomes, 2022

L. V. Beethoven: Quarteto op. 18 n.º 1 em Fá Maior

Ludwig van Beethoven é um dos mais conhecidos compositores da história da música europeia. Nascido em 1770 em Bonn, Alemanha, este compositor revolucionou o mundo da música e ainda hoje a sua arte é escutada e apreciada por todo o mundo. Desde sinfonias a música de câmara a concertos, a versatilidade de Beethoven brilha com o seu estilo próprio e a sua linguagem musical inigualável.

Apesar da aura lendária que perdura na imagem que temos de Beethoven, este era um compositor completamente oposto ao que normalmente referimos como génio. Enquanto outros como Mozart ou Schubert criavam obras imensas de uma vez e completamente de memória, muitas vezes em espaços de tempo extremamente curtos, o compositor alemão estudava e desenvolvia as suas obras um detalhe de cada vez, com mudanças constantes a cada compasso de versão para versão.

Cada peça é construída com o maior cuidado para criar um resultado final único que está presente em toda a sua obra, não obstante a sua evolução como músico, compositor, artista e ser humano. No entanto, quando começou a compor este ciclo de quartetos em 1798, Beethoven não só estava ainda muito ligado ao estilo clássico, como é clara a influência de Haydn, com quem estudou contraponto, e de Mozart, cujo trabalho admirava e via como o auge da capacidade criativa e artística. Até à sua publicação, em 1801, Beethoven refinou e evolui os quartetos, deixando a sua marca mesmo num estilo tão clássico e numa fase tão exploratória.

O quarteto em Fá Maior n.º 1 de Beethoven é ao mesmo tempo clássico em forma e linguagem e romântico em espírito e brio. As características turbulentas do século XIX encontram-se primeiro nestas obras do compositor alemão, com passagens virtuosas, mudanças drásticas de carácter, emoções pessoais e foco no mundo interior do indivíduo, na sua visão subjetiva do mundo e da sua realidade.

Ainda que os quartetos opus 59 e 95 marquem o início do novo modelo de quarteto de cordas, os opus 18 contêm o mesmo espírito dentro de um delicadeza e elegância de 50 anos antes, tão presentes nas obras do conhecido “pai” desta formação e professor de Beethoven, Joseph Haydn. Apenas um andamento se destaca e sai deste equilíbrio, o segundo andamento do primeiro quarteto.

De acordo com uma carta de Karl Amenda, Beethoven tentou representar a cena do túmulo do Romeu e Julieta de Shakespear. A mudança de tonalidade para ré menor traz com ela um tumulto de tragédia e revolta, de confronto com a dor e de rebelião contra a realidade que mostram onde Beethoven iria conduzir um dia a música europeia. Esta obra permite escutar uma fase deste compositor que tem dois lados contraditórios, o do aluno que aprende, imita, segue o caminho traçado pelos que vieram antes dele, e o do revolucionário tempestuoso e solitário, que segue um caminho único, dono do destino dele que se revolta contra todas as tradições estabelecidas.

Edgar Gomes, 2022

F. Mendelssohn: Capriccio op.81 em Mi menor

Nascido em 1809 em Hamburgo, Felix Mendelssohn foi um prodigioso compositor que não só contribuiu para a música como artista como também foi responsável por trazer de volta a música dos mestres passados, criando a tradição que nos permite hoje ouvir música de todas os períodos e apreciar génios de todos os séculos.

O opus 81 foi publicado postumamente, devido ao trabalho de Mendelssohn não ter sido completamente publicado em vida. Completamente dedicado ao movimento romântico artístico, tanto ele como a sua esposa criaram um grande número de obras que foram inspiradas pelas peças de Bach, Mozart, Haydn, Beethoven, entre outros. Dos grandes progressos que Mendelssohn trouxe para a sua música, o encanto pelo quarteto de cordas foi um deles.

Os quartetos de Beethoven, junto com as suas sinfonias, foram uma fonte de inspiração e de apreensão para os compositores alemães e austríacos que lhe seguiram. Brahms, por exemplo, não compôs nenhuma sinfonia até completar 40 anos, devido à enorme pressão que o legado sinfónico de Beethoven punha nas sinfonias apresentadas depois da 9.ª sinfonia de Beethoven ter sido estreada.

No entanto, Mendelssohn conseguiu construir um novo caminho e o seu legado para esta formação é rico e inovador, tanto nos trabalhos publicados em vida como naqueles descobertos após a sua morte. Esta peça do Opus 81 foi escrita em 1843 e faz parte de uma altura mais madura da vida musical de Mendelssohn. A abertura apresenta uma longa melodia com emoções fortes típicas do compositor, carregadas de agitações e direção, este Andante com Moto transmite angústia e felicidade, confronto e resolução, um contraste absoluto com a segunda parte, um Allegro fugato assai Vivace, que brinca com um tema fugato que passa de instrumento para instrumento com grande velocidade e simplicidade emocional. Uma antítese entre dois andamentos que segue a grande tradição de contraste para pontuar as diferenças e melhor expressar os extremos entre os dois andamentos.

Edgar Gomes, 2022

Horário:

Domingo, às 16h

Informação adicional:
  • Destinatários: maiores de 3 anos

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